quarta-feira, 21 de março de 2012

A corrida armamentista dentro da corrida armamentista




A tabela acima mostra o imenso desenvolvimento técnico das indústrias de armas na atualidade, segundo dados do Instituto de Pesquisas da Paz de Estocolmo - SIPRI. As empresas que mais produzem artefatos de destruição e morte no mundo são dos EUA, incluindo na lista estão outros países como Grã-Bretanha, Rússia e Itália. O colosso industrial militar atual, construído após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), desenvolveu um poder econômico e político de grandes proporções a ponto de conseguir submeter às pesquisas mais avançadas em tecnologia ao seu comando. Esse desenvolvimento técnico e cientifico garantiu grandes avanços tecnológicos e, dessa forma, ganhou defensores do continuísmo desse processo nas principais potências bélicas mundiais. As corridas armamentistas mundiais são combustíveis para a produção, desenvolvimento e comercialização de armas. Quando falamos em corrida armamentista mundial, denominamos as relações internacionais entre os Estados que possam se elevar a um nível de tensão culminando com demonstrações de força militar a qual depende de dispendiosos investimentos de recursos financeiros devido ao alto custo dos materiais bélicos. O Estado moderno não abre mão da sua soberania e do controle sobre o seu território. No entanto, as grandes potências, historicamente, costumam definir os direcionamentos das relações internacionais de acordo com seus interesses estratégicos podendo acarretar em intervenções militares se julgarem necessário na defesa de seus interesses.
   São várias as corridas armamentistas que ocorrem atualmente no planeta, mas tem uma corrida armamentista que é pouco conhecida e essa ocorre no interior das próprias corridas armamentistas nas grandes potências bélicas, como os EUA. Durante a Guerra Fria, os EUA e a URSS se transformaram em verdadeiros complexos industriais militares, mas ocorria uma diferença entre ambos as superpotências naquele período. Na URSS, as forças armadas estavam todas subordinadas ao sistema burocrático estatal e constituíam um mesmo conjunto submetido ao total controle do governo e, dessa forma, não havia distinções entre as forças naval, aérea, terrestre e estratégica. Nos EUA, a situação era muito diferente, no interior da corrida armamentista e na produção maciça de armamentos, ocorria à disputa entre as forças armadas para mais verbas e recursos do Estado. Exército, Marinha e Força Aérea disputavam recursos do governo e as empresas, vinculadas as forças, competiam também entre si para conseguir ampliar o fornecimento de armas desencadeando uma corrida armamentista dentro do próprio estado, pois sendo o Estado o comprador é ele que garante os lucros dos negócios surgindo um poderoso ‘’Lobbes de armamentos’’ que se perpetuou no interior da política e da sociedade dos EUA. A URSS perdeu a corrida armamentista e um dos fatores foi por não ter em seu interior um Estado dentro do Estado como era, e ainda é, o setor armamentista nos EUA. A influência do setor de armamentos cresceu a ponto de militar a própria política transformando, segundo o historiador britânico Edward Thompson, os próprios armamentos em agentes políticos.
  A concorrência entre as corporações e as disputas entre as forças armadas por mais recursos contribuíram para a crescente militarização da política. A frágil democracia dos EUA se adaptou ao sistema e a sociedade também. Ainda segundo Thompson, a influência dos sistemas de produção de armas tornou civil o setor militar e em contrapartida mais civis se militarizam contribuindo para o controle da opinião e se amparando na perpetuação da crise bélica. Thompson afirma interessar aos grupos dirigentes a permanecia da crise bélica mundial para legitimar seus papéis, interesses e privilégios e desviar a atenção da evidente irracionalidade das operações. Dessa forma, se entende porque novos antagonismos são criados e justificados para a permanência da corrida armamentista e da crise bélica. Em meio à crise econômica atual,  o governo de Barack Obama anunciou investimentos de cento e cinqüenta bilhões de dólares no desenvolvimento de novas armas e o orçamento de defesa atual continua em mais de meio trilhão de dólares, ou seja, no mesmo patamar dos últimos anos do governo Bush.
   Os defensores dos investimentos em pesquisas bélicas alegam o extraordinário desenvolvimento técnico adquirido pela produção de armas como geradores de grandes avanços para a humanidade em conhecimento. No entanto,  segundo outras análises, apesar dos avanços técnicos desse processo, ele não representa um progresso efetivo, mas sim constitui em um sistema parasita e arbitrário que precisa ser superado pela humanidade, o que será analisado em outro texto.
Referências:
THOMPSON, Edward. Notas sobre o exterminismo, o estágio final da civilização. Exterminismo e Guerra Fria. Editora Brasiliense S.A. São Paulo, p.15-57. 1985.
Foto: Rogério Jordão. disponível em:
Acesso em: 20/03/2012.
Esquerda Net. Disponível em: http://www.esquerda.net/artigo/eua-empresas-lucram-com-guerra-permanente. acesso em 20/03/2012.