domingo, 9 de abril de 2017

Terrorismo contra quem?


"A melhor forma dos EUA combater o terrorismo, é deixar de ser o maior terrorista da história''.                                                                                                                                   Noam Chomsky.

Os anos de 2015 e 2016 foram assolados por ações violentas atribuídas a prática de terrorismo por grupos fundamentalistas e de seus seguidores espalhados pelo mundo. Em uma análise mais aprofundada, se torna evidente que o fundamentalismo islâmico é disseminado por uma minoria absoluta entre os povos muçulmanos. No entanto, o desconhecimento sobre a realidade das sociedades islâmicas favoreceu os movimentos xenofóbicos ocidentais contribuindo para provocar a possível saída do Reino Unido da União Europeia. Diante da comoção resultante de ataques terroristas no ocidente, poucos entendem o papel que exerce essa xenofobia na intensificação da intolerância que alimenta o radicalismo de grupos extremistas e de seus simpatizantes infiltrados nos países ocidentais. Como já nos referimos em outros textos, a irresponsabilidade política na condução de ações militares no mundo árabe resultaram na exacerbação do extremismo como forma de resposta. A avassaladora máquina de guerra ocidental, direcionada nos últimos 15 anos na derrubada de governos considerados hostis aos seus direcionamentos políticos e econômicos, provocou a destruição de inúmeras cidades e regiões que antes eram intactas e dotadas de serviços básicos a população.
   Evidentemente que os governos de Saddan Hussein no Iraque, de Bashar al Assad na Síria e Muamar Kadaffi na Líbia eram muito distantes da articulação política presente no modelo democrático representativo ocidental. No entanto, sob o controle das ditaduras, o Iraque, Síria e Líbia ainda eram países com governos politicamente instituídos. Sob o governo dessas ditaduras, a população civil possuía acesso a serviços de saúde, educação e segurança. A Líbia possuía um dos melhores Índices de desenvolvimento Humano – IDH da África. A Síria possuía uma infraestrutura de qualidade e um dos melhores sistemas de comunicação entre os países árabes do Oriente Médio além de manter uma prestação satisfatória de serviços básicos a população. No Iraque, apesar do bloqueio econômico imposto ao país desde 1991, havia antes de 2003 uma infraestrutura e prestação de serviços muito superior a atual. Além dos serviços essenciais a população, o principal a ser considerado é a estabilidade exercida por esses poderes políticos nesses países, os quais são dominados pela influência dos clãs locais. A população civil dependia dessa estabilidade para a sua segurança diante da complexidade cultural na região (Ver texto: O Colonialismo das Armas e a Tragédia Síria). Toda essa estabilidade foi colocada abaixo, de forma direta ou indireta, pela interferência da política externa ocidental com consequências catastróficas. A opinião pública ocidental deveria ser moldada para apoiar essas ações e  ela mesma associar tudo isso a ‘’Guerra ao Terror’’, ou seja, a luta da civilização ocidental contra o terrorismo.
   As supostas associações de vários governos islâmicos, considerados hostis aos interesses ocidentais, com o terrorismo internacional foram disseminadas a exaustão pela mídia ocidental. Observa-se na história atual os direcionamentos da máquina de guerra se articulando ao momento da expansão econômica global. O aparato midiático do ocidente, busca potencializar os malefícios do radicalismo islâmico sobre a sociedade ocidental expondo os riscos envolvendo a prática do terrorismo que, como se presume, pode atingir qualquer local a qualquer momento. A política de controle do potencial energético do Oriente Médio pelas corporações ocidentais encontraram a resistência do nacionalismo árabe, o qual deveria ser combatido para se alcançar esse objetivo. O temor generalizado de ataques terroristas no ocidente são acompanhados por uma histeria coletiva exacerbada pelos meios de comunicação e pela indústria do entretenimento de massas.
 Recentemente, o maior ataque terrorista no Ocidente foi realizado na França em 13 de novembro de 2015 provocando a trágica morte de 130 pessoas, o qual foi assumido pelo Estado Islâmico – EI. Na guerra declarada do Ocidente contra o nacionalismo árabe desde 2003, o número de vítimas equivale facilmente a uma tragédia como a ocorrida na França por dia, ou seja, diariamente morre dezenas ou centenas de pessoas no Iraque, Síria, Líbia, Iêmen, Afeganistão, Paquistão, Nigéria, Sudão, entre outros, associada as ações desencadeadas pela ‘’Guerra ao Terror’’ e pelos seus efeitos políticos e sociais nessas nações e regiões. Segundo o intelectual estadunidense Noam Chomsky em “O Controle da Mídia, Os Espetaculares Feitos da Propaganda”, o terrorismo não existe contra os povos do Oriente, em especial os Árabes. O terrorismo existe apenas contra os povos ocidentais. Apenas os ocidentais são vitimados pelas ações terroristas enquanto os povos do Oriente e da África são mortos diariamente ou desalojados de suas casas e, desesperadamente, muitos buscam refúgio na Europa na tentativa de alcançar o mínimo necessário à sua sobrevivência. Em janeiro de 2015 enquanto o mundo ocidental estava em comoção pelo ataque terrorista ao jornal satírico Charlie Hebdo, o qual morreram 12 pessoas, quase não houve menção as atrocidades cometidas pelo grupo Bocco Haran, uma ramificação do EI, na Nigéria provocando a morte de 2000 civis.
   É evidente que o terrorismo deverá ser combativo e que todas as ações hediondas, atribuídas a essa prática, devem ser condenadas. No entanto, devemos reconhecer as ações políticas irresponsáveis que alimentam os extremismos como as guerras diretas e indiretas contra nações soberanas, em especial o Iraque, Síria e Líbia, e suas consequências humanitárias. A manipulação midiática de massas seguirá com o discurso falacioso da militarização do combate ao terrorismo. Essa manipulação é necessária ao movimento da máquina de guerra global. Nesse contexto, é importante o entendimento de como os grupos extremistas oferecem pouco risco aos Estados nacionais do Ocidente, o que será estudado em outros textos.

Palavras Chaves: Xenofobia, Estabilidade, Nacionalismo, Terrorismo, Mídia.
  
 Referências:
- Foto: Cidade de Alepo (Síria) https://www.youtube.com/watch?v=MwUp-k-kUnw.
- CHOMSKY, NOAM; O Controle da Mídia, Os Espetaculares Feitos da Propaganda; Graphia, São Paulo, 2003, 96p.