''Bem,
leve-me à fabrica da morte e deixe-me aprender alguma coisa mais. Deve haver
certa verdade atrás de toda essa terrível ironia''. Major Barbara
Os assuntos referentes às análises do
militarismo têm pouco espaço na mídia em geral e, no mundo atual, a
existência de tropas armadas faz parte da própria estrutura social e política
das nações. Em nenhum outro período da história humana a mobilização de forças
militares foi tão intensa como na atualidade, nem mesmo na Roma
antiga, onde a guerra era um sistema de avanço econômico inerente ao Estado,
havia mobilização de tropas em tempos de paz. O Estado moderno constitui grandes
contingentes militares em Estado de guerra permanente mesmo havendo, na
maioria das vezes, remotas chances de hostilidades externas ou internas. Sem dúvida, o
fenômeno da militarização do espaço é a característica predominante na
sociedade atual. As próprias forças armadas se tornaram instituições que
empregam enormes contingentes em seus quadros operacionais sendo esses empregos cobiçados pelos jovens trabalhadores. Esses temas serão analisados em outros
textos, pois grande maioria dos indivíduos não compreendem a força e o grau de
militarização a que estão submetidos. É necessário um maior trabalho de
esclarecimento para que as pessoas possam compreender a realidade. O custo
enorme desse sistema contribui para as enormes disparidades econômicas
existentes, todos custeados pela sociedade civil.
Existem inúmeros defensores dos investimentos
militares, não apenas nos países desenvolvidos, mas também nos países
subdesenvolvidos. Sem duvida, as demonstrações operacionais dos avançados
armamentos causam um impacto considerável na opinião publica em todo o mundo incluindo as populações dos países pobres, dado a formidável sofisticação
continua do poderio bélico das grandes potências servindo como vitrine para
seus produtos. Muitos países passam a cobiçar os sofisticados engenhos. Os EUA
se orgulham de possuir um grande poderio tecnológico militar praticamente
inatingível, mesmo em longo prazo, por outras nações. Todos esses avanços
tecnológicos demonstrados a exaustão pela indústria do entretenimento, e pela
mídia, acabam por associar esses fenômenos da ciência moderna á superioridade
conquistada pelas pesquisas bélicas com grandes benefícios para o
conhecimento humano. No entanto, ocorrem profundas contradições que desmascaram
o sistema econômico dirigido pelo militarismo e o associa não com o progresso
continuo, mas sim a um sistema parasita que precisa ser superado pela
humanidade.
Segundo o geógrafo brasileiro José Willian Vesentini,
os dispendiosos recursos destinados ao setor militar todo ano representa um
desperdício tão desastroso que se fosse empregado no setor civil poderia
erradicar a fome e o analfabetismo em todo o mundo. Milhares de escolas,
universidades, hospitais poderiam ser construídos além de habitações
suficientes para a resolução do déficit habitacional mundial em poucos anos. Os
enormes recursos destinados a militarização levou ao agravamento dos problemas
sociais devido ao dreno dos recursos que poderiam ser destinados ao setor
civil. A tecnologia militar, como mencionada no texto anterior, é extremamente
cara, pois os técnicos e cientistas mais bem pagos atuam na área militar. O contínuo
desenvolvimento do setor militar ocorre sob um véu de segredo restrito ao
controle da maquina estatal e, conseqüentemente, a tecnologia alcançada também.
A sociedade civil acaba ficando fora do controle dessa tecnologia e paga muito
caro comprometendo o seu próprio desenvolvimento, ou seja, enquanto um
setor se desenvolve outro se atrofia. Isso contribui para explicar porque mesmo sendo um período de forte crise econômica e recessão, como o atual, os gastos militares dos países praticamente não se alterou e, em alguns casos, até aumentou. O desenvolvimento tecnológico do setor
militar contribui para o esgotamento econômico, pois, periodicamente, ele se
volta contra a própria sociedade em busca de mais recursos para mais
investimentos bélicos e para manter a sua estrutura de poder, o que
resulta no controle perpétuo da própria sociedade civil (VESENTINI, 1987,
p.68-69).
Para o historiador britânico Edward
Thompson, o capital intensivo utilizado na produção bélica, e na manutenção dos
contingentes gera pressões inflacionárias, desemprego e aperta o cerco nas
economias onerando a população civil e a classe trabalhadora. Outro fator é que a tecnologia militar tem suas próprias formas de
obsolescência, pois muitos equipamentos se tornam obsoletos antes mesmos de
entrar em operação nas forças armadas e necessita de constante inovação
exigindo cada vez mais recursos econômicos (THOMPSON, 1985, p.36). Se os
defensores desse ‘’estado de coisas’’ alegam o avanço tecnológico alcançado, a
história econômica de algumas nações demonstram uma falácia, pois comprovam
que não é necessária a submissão as pesquisas militares para se avançar em
tecnologia, o qual analisaremos em outro texto. Apesar de imagens, como a
foto acima, onde se observa um enorme cemitério de aviões militares no Arizona –
EUA portando mais de 4550 aviões de combate de alto custo apodrecendo, os gastos
militares têm muito pouca abordagem na sociedade atual e, no geral, o que temos
são informações reduzidas e esparsos artigos para a imprensa. Prevalece na
atualidade um modelo que coloca a guerra como prioridade não apenas na sua
execução, mas também na sua preparação infinita, o que será apresentado em
outro texto.
Referências:
THOMPSON, EDWARD. Notas Sobre o Exterminismo, o Estágio Final
da Civilização. Coletânea de textos: Exterminismo e Guerra Fria. Editora
Brasiliense. São Paulo. 1985, p. 15-57.
VESENTINI, JOSÉ WILLIAM. Imperialismo e Geopolítica Global.
Geopolítica e geoestratégia internacional. Ed. Papirus. Campinas, p. 55-87.
1987.
Foto:
Cemitério de aviões de combate no Arizona – EUA. Disponível em http://www.curiosidades10.com/bizarro/cemiterios_de_avioes.html,
acesso em 20 de junho de 2012.