quarta-feira, 20 de junho de 2012

Tecnificação Contraditória




''Bem, leve-me à fabrica da morte e deixe-me aprender alguma coisa mais. Deve haver certa verdade atrás de toda essa terrível ironia''. Major Barbara

    Os assuntos referentes às análises do militarismo têm pouco espaço na mídia em geral e, no mundo atual, a existência de tropas armadas faz parte da própria estrutura social e política das nações. Em nenhum outro período da história humana a mobilização de forças militares foi tão intensa como na atualidade, nem mesmo na Roma antiga, onde a guerra era um sistema de avanço econômico inerente ao Estado, havia mobilização de tropas em tempos de paz. O Estado moderno constitui grandes contingentes militares em Estado de guerra permanente mesmo havendo, na maioria das vezes, remotas chances de hostilidades externas ou internas. Sem dúvida, o fenômeno da militarização do espaço é a característica predominante na sociedade atual. As próprias forças armadas se tornaram instituições que empregam enormes contingentes em seus quadros operacionais sendo esses empregos cobiçados pelos jovens trabalhadores. Esses temas serão analisados em outros textos, pois grande maioria dos indivíduos não compreendem a força e o grau de militarização a que estão submetidos. É necessário um maior trabalho de esclarecimento para que as pessoas possam compreender a realidade. O custo enorme desse sistema contribui para as enormes disparidades econômicas existentes, todos custeados pela sociedade civil.
  Existem inúmeros defensores dos investimentos militares, não apenas nos países desenvolvidos, mas também nos países subdesenvolvidos. Sem duvida, as demonstrações operacionais dos avançados armamentos causam um impacto considerável na opinião publica em todo o mundo incluindo as populações dos países pobres, dado a formidável sofisticação continua do poderio bélico das grandes potências servindo como vitrine para seus produtos. Muitos países passam a cobiçar os sofisticados engenhos. Os EUA se orgulham de possuir um grande poderio tecnológico militar praticamente inatingível, mesmo em longo prazo, por outras nações. Todos esses avanços tecnológicos demonstrados a exaustão pela indústria do entretenimento, e pela mídia, acabam por associar esses fenômenos da ciência moderna á superioridade conquistada pelas pesquisas bélicas com grandes benefícios para o conhecimento humano. No entanto, ocorrem profundas contradições que desmascaram o sistema econômico dirigido pelo militarismo e o associa não com o progresso continuo, mas sim a um sistema parasita que precisa ser superado pela humanidade.
   Segundo o geógrafo brasileiro José Willian Vesentini, os dispendiosos recursos destinados ao setor militar todo ano representa um desperdício tão desastroso que se fosse empregado no setor civil poderia erradicar a fome e o analfabetismo em todo o mundo. Milhares de escolas, universidades, hospitais poderiam ser construídos além de habitações suficientes para a resolução do déficit habitacional mundial em poucos anos. Os enormes recursos destinados a militarização levou ao agravamento dos problemas sociais devido ao dreno dos recursos que poderiam ser destinados ao setor civil. A tecnologia militar, como mencionada no texto anterior, é extremamente cara, pois os técnicos e cientistas mais bem pagos atuam na área militar. O contínuo desenvolvimento do setor militar ocorre sob um véu de segredo restrito ao controle da maquina estatal e, conseqüentemente, a tecnologia alcançada também. A sociedade civil acaba ficando fora do controle dessa tecnologia e paga muito caro comprometendo o seu próprio desenvolvimento, ou seja, enquanto um setor se desenvolve outro se atrofia. Isso contribui para explicar porque mesmo sendo um período de forte crise econômica e recessão, como o atual, os gastos militares dos países praticamente não se alterou e, em alguns casos, até aumentou. O desenvolvimento tecnológico do setor militar contribui para o esgotamento econômico, pois, periodicamente, ele se volta contra a própria sociedade em busca de mais recursos para mais investimentos bélicos e para manter a sua estrutura de poder, o que resulta no controle perpétuo da própria sociedade civil (VESENTINI, 1987, p.68-69).
   Para o historiador britânico Edward Thompson, o capital intensivo utilizado na produção bélica, e na manutenção dos contingentes gera pressões inflacionárias, desemprego e aperta o cerco nas economias onerando a população civil e a classe trabalhadora. Outro fator é que a tecnologia militar tem suas próprias formas de obsolescência, pois muitos equipamentos se tornam obsoletos antes mesmos de entrar em operação nas forças armadas e necessita de constante inovação exigindo cada vez mais recursos econômicos (THOMPSON, 1985, p.36). Se os defensores desse ‘’estado de coisas’’ alegam o avanço tecnológico alcançado, a história econômica de algumas nações demonstram uma falácia, pois comprovam que não é necessária a submissão as pesquisas militares para se avançar em tecnologia, o qual analisaremos em outro texto. Apesar de imagens, como a foto acima, onde se observa um enorme cemitério de aviões militares no Arizona – EUA portando mais de 4550 aviões de combate de alto custo apodrecendo, os gastos militares têm muito pouca abordagem na sociedade atual e, no geral, o que temos são informações reduzidas e esparsos artigos para a imprensa. Prevalece na atualidade um modelo que coloca a guerra como prioridade não apenas na sua execução, mas também na sua preparação infinita, o que será apresentado em outro texto.
Referências:
THOMPSON, EDWARD. Notas Sobre o Exterminismo, o Estágio Final da Civilização. Coletânea de textos: Exterminismo e Guerra Fria. Editora Brasiliense. São Paulo. 1985, p. 15-57.
VESENTINI, JOSÉ WILLIAM. Imperialismo e Geopolítica Global. Geopolítica e geoestratégia internacional. Ed. Papirus. Campinas, p. 55-87. 1987.

Foto: Cemitério de aviões de combate no Arizona – EUA. Disponível em http://www.curiosidades10.com/bizarro/cemiterios_de_avioes.html, acesso em 20 de junho de 2012.