segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sob a Diplomacia dos Tomahawks

 ‘’Os artigos contra a paz são escritos com penas feitas do mesmo aço utilizado nos canhões e nas granadas’’. Aristides Briand 

    Novamente o mundo estarrecido assiste a democracia perversa se mobilizar para a guerra. Se não ocorrecem às intervenções diplomáticas dos russos, os EUA já teriam direcionado a sua máquina de guerra para massacrar a combalida e humilhada Síria. O enfraquecido governo sírio seria uma presa fácil, pois prevalece à estratégia de guerra apenas contra países que não podem reagir à agressão à altura. A escalada midiática para incriminar o governo sírio de Bashar AL-Assad pelo uso de armas químicas contra a população civil prossegue, e resultara em mais apoio militar aos rebeldes que, tragicamente, ira incendiar cada vez mais o país. Diante dessa acusação podemos questionar: porque o governo de Assad utilizaria armas químicas contra seu próprio povo em um momento que o governo esta mergulhado em uma guerra total contra rebeldes e mercenários de dentro e de fora de suas fronteiras? Porque arriscaria ser condenado pela ‘’comunidade’’ internacional e perder os escassos apoios externos que possui? A grande mídia não levanta essas questões e, muito pelo contrario, continua a insistir que foram as forças de Assad que utilizaram as armas mesmo sabendo que os rebeldes, também, possuem armas químicas. Prevalece o discurso hostil a países com governos ditatoriais, como se o modelo democrático representativo ocidental fosse compatível com todas as sociedades e culturas do mundo. É certo que o motivo é um pretexto para afirmar o jogo geopolítico dos EUA e de Israel na região. O objetivo dos EUA parece ser derrubar o governo de Assad e não acabar com a guerra com a utilização de um acordo de paz. O discurso se assemelha ao utilizado na invasão do Iraque com os mesmos propósitos, ou seja, derrubar uma ditadura que se considera ser sanguinária utilizando os instrumentos de destruição necessários, de forma direta ou indireta, não importando quantas pessoas possam ser atingidas. Segundo estudos, 90% dos mortos na invasão e ocupação do Iraque, a partir de 2003, foram civis (PILGER, 2009).
  As explicações possíveis para o que esta ocorrendo na Síria envolve, primeiramente, a posição nacionalista do governo de Assad, que entra em choque com os interesses corporativistas internacionais, principalmente, do setor energético, pois a Síria possui importantes reservas de petróleo e gás. Em segundo, como já nos referimos em outros textos, à Síria é o principal aliado do Irã na região, o que contraria os interesses dos regimes da Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Barein e, principalmente, dos EUA e Israel. As armas dos EUA, e de seus aliados europeus, estão chegando aos rebeldes pela Arábia Saudita e Barein e o derramamento de sangue prossegue não importando os impactos políticos e sociais desse conflito. A postura externa dos EUA é condizente ao seu casamento com a produção bélica e a construção do complexo industrial militar durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como já foi apresentado em outros textos. Esse complexo não foi desmobilizado após aquele conflito, ele permanece como um imperativo de crescimento econômico e tecnológico importante para os interesses das mega corporações dos EUA direcionando a sua política interna e externa. Os arbítrios da maior potência militar do mundo fizeram do movimento popular árabe, conhecido como ‘’Primavera Árabe’’, um pretexto para a imposição de um novo jogo geopolítico na região. A Tunísia, depois da queda do ditador, aliado dos EUA, outro governo colaborador assumiu o seu lugar com os mesmos propósitos, ou seja, contribuir com os interesses ocidentais. A Líbia esta mergulhada na barbárie sem fim depois dos violentos bombardeios sobre o país realizados pelos EUA, França e Grã-Bretanha, que derrubaram o governo de Muammar Gadaffi, causando a morte de 30 mil pessoas. A situação do Egito é sombria, e o futuro político do país é incerto com risco de conflagração interna ou de permanecer na ditadura, enquanto a Síria afunda na guerra civil. Enfim, o movimento popular árabe, que demonstrava insatisfação contra as injustiças sociais, está domado pelos interesses externos ocidentais e, praticamente, se encontra sepultado.
   Quanto ao Iraque, o país continua mergulhado na violência interna com a possibilidade de uma guerra civil em larga escala rivalizando sunitas e xiitas. No Afeganistão, a guerra prossegue e é certo que os EUA perderam a guerra no país, assim como perderam a guerra do Iraque. O que se observa é a atmosfera de caos e violência se disseminando em grande parte do Oriente Médio, do mediterrâneo ocidental ao Paquistão. Somando a isso esta a insurgência do extremismo de grupos radicais apoiados de um lado e de outro. Grupos aliados á Al Qaeda estão sendo apoiados pelos EUA na Síria, e mercenários estão chegando em um numero crescente ao país. Dessa forma, a Síria se assemelha a Nicarágua dos anos de 1980 com a campanha assassina dos EUA para derrubar o governo sandinista, apoiando os rebeldes e ignorando a catástrofe humanitária que se segue. Armas continuarão a chegar como nunca na Síria e grupos de combatentes serão treinados para a guerra até que o governo do país caia. Se o governo sírio não cair, e não ocorrer um acordo de paz (O que parece ser pouco provável pela ingerência externa nesse conflito), os EUA poderá utilizar um novo pretexto para atacar mais o país, de forma direta ou indireta. Se os radicais do partido republicano estivessem no poder nos EUA, à Síria, provavelmente, já teria sido atacada diretamente.
   No entanto, pesquisas indicam que a maioria dos estadunidenses são contra essa guerra, o que pode ser uma esperança para o povo sírio, mas é certo que a política belicosa dos EUA dificilmente mudará. Mas e a guerra deverá continuar sem se fazer nada para dete-la? A exemplo do conflito mais mortífero após a Segunda Guerra Mundial na República Democrática do Congo - RDC, cinco milhões de pessoas foram mortas e nada foi feito para acabar com o conflito que ainda permanece. Como se observa, as justificativas de ‘’guerras humanitárias’’, como a aplicada contra a Líbia, apenas tende ao convencimento do público para a obtenção do apoio as ações que se seguem. Em contrapartida, se estabelece no mundo uma política geoestratégica genocida e etnocida, com uma conotação fortemente imperialista. É certo que essa política continuará a menos que os cidadãos dos EUA decidem parar de pagar a conta, ou se o militarismo da democracia perversa for isolado no cenário internacional. Esses assuntos ainda estudaremos em outros textos. Quanto à Síria? Seguira sendo destruída até pouco restar para ser destruído. Se houver ataques dos EUA, a situação será ainda pior, pois se o governo de Assad cair à população Xiita e Alauita será perseguida. Não seria possível uma solução militar para esse conflito, ao menos que populações inteiras sejam varridas do mapa pela guerra. Em suma, os últimos a serem beneficiados pela política dos EUA, para região, serão os sírios. Quanto a esse papel de ‘’polícia do mundo’’ que o EUA ainda insistem em impor sobre a humanidade, estudaremos em outro texto.
Referências:

PILGER, JOHN. A Guerra Que Você Não Vê. Documentário jornalístico. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=pskjzl2czKg. Acesso em: 15/09/2013.
Foto: Mundo Naútico. Iraquianos queimados durante a combates na Guerra do Golfo. Disponível  em: http://naval.blogs.sapo.pt/39790.html. Acesso em 16/09/2013.