quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Culto a Ciência do Horror




   ‘’ Sempre a vimos como um instrumento civil, sequer cogitamos que a tecnologia de ponta é monopólio dos militares, a quem servem, mas, sobretudo, que a servem e cultuam’’. Laymert Garcia dos Santos


    Nos últimos textos apresentados nesse blog, levantei questionamentos sobre a relação entre o militarismo com os extraordinários avanços tecnológicos alcançados pela produção industrial bélica e suas conseqüências para a humanidade. Os estudiosos que se propuseram a denunciar a maquina de morte, que se esconde por tráz dos avanços tecnológicos, são categóricos ao afirmar que esse movimento representa um retrocesso econômico, político e social, um desastroso desperdício de recursos. O movimento dessa maquina de guerra mundial direcionou a sociedade civil a uma nova forma de colonialismo, o que será apresentado em outro texto. A tecnologia consiste em uma doutrina de dominação que, submetida ao controle militarista, produz os elementos necessários para a perpetuação da crise bélica. Em um momento que se assiste a desvalorização cada vez maior do proletário-trabalhador e do proletário-soldado, se observa os avanços crescentes do desenvolvimento tecnológico militar com o triunfo da produção da destruição automatizada.
   A tecnologia da destruição submeteu a tecnologia da produção industrial. Como já foi apresentado em outro texto, o desenvolvimento industrial atual depende dos avanços da tecnologia bélica, ou seja, a potencialidade da produção tecnológica de ponta esta voltada à aniquilação humana, a catástrofe, a barbárie total. Dessa forma, as guerras atuais se faz no embate e no conflito a nível tecnológico necessitando de constante desenvolvimento e aprimoramento para o seu maior fortalecimento. Quando citei que o desenvolvimento tecnológico militar subdesenvolve a sociedade civil, não é apenas uma relação econômica imposta pela lógica da divisão internacional do trabalho, representa uma realidade em que toda sociedade civil humana esta em posição de subdesenvolvimento para que o setor militar continue a se desenvolver constantemente (VIRILIO, LOTRINGER, 1984, p. 49-68).
   Segundo o filósofo francês Paul Virilio, a relação entre o militarismo com a tecnologia direcionou o investimento da economia política mundial na economia de guerra e, dessa forma, a guerra passa a ser conduzida não apenas na sua execução, mas também na sua preparação, o que Virilio considera como a ‘’Guerra Pura’’. A tecnologia da destruição passa a ser restrita as engrenagens do sistema da Guerra Pura, e se instaurou um verdadeiro culto ao desenvolvimento tecnológico militar. A sacralização da tecnologia prossegue se opondo aos demais avanços tecnológicos e, nesse culto, existem os seus sacerdotes executores - os militares. Prossegue assim a completa superioridade da tecnologia da destruição, como demonstrado nas guerras recentes onde se observou que a persuasão se faz com poder dissuasivo constantemente ampliado a níveis surpreendentes. Se outrora esse poder de dissuasão era representado pelos armamentos nucleares, ele então passou a ser ampliado a todos os níveis de armamentos (VIRILIO, LOTRINGER, 1984, p. 49-68).
      A precisão cirúrgica dos engenhos de alta tecnologia, composto de bombas e mísseis, que arrasaram a cidade de Bagdá durante a invasão do Iraque em março de 2003 demonstram que o desenvolvimento tecnológico segue impulsionado pelas condições de poder desencadear uma guerra e, ao mesmo tempo, de conduzi-la pelo poder da dissuasão potencialmente ampliado. O sistema de Guerra de preparação e de execução tem sua própria capacidade de ampliação e de desenvolvimento. Como já estudamos em outros textos, a conexão entre os industriais e os militares, e o suporte concedido pela democracia perversa, proporcionou a permanência dos investimentos na economia de guerra. Mesmo sendo um grande desperdício de recursos se faz necessário o não esgotamento dos recursos e que haja sempre recursos disponíveis. Como afirma Virilio : ‘’De um lado, trata-se de não esgotar os recursos; de outro, de não desenvolver a sociedade civil, porque essa estorva o desenvolvimento da sociedade militar, os meios de desencadear a guerra’’  (VIRILIO, LOTRINGER, 1984, p.58).
   O culto a tecnologia de ponta prossegue pelo monopólio do uso militar. Os sacerdotes desse culto, no entanto, se tornam também os inquisidores, aqueles que, periodicamente, voltam essa sacrossanta tecnologia para a destruição e a barbárie humana. Se outrora a guerra se dava pela política, pelos guerreiros e pelos seus ‘’aspectos românticos’’, com o advento das proezas da ciência e da técnica agora a guerra se desenvolve de uma forma que, segundo Karl Kraus, seu desfecho será decidido de fato numa espécie de competição entre os laboratórios e fábricas das diversas nações (VIRILIO, LOTRINGER, 1984). Essas palavras proféticas de Kraus, do início do século XX, são atuais, na forma que observamos as guerras de hoje, ocorrendo segundo os interesses das grandes corporações mundiais. Segundo dados do Instituto para Pesquisas da Paz de Estocolmo – SIPRI, a guerra do Iraque custou três trilhões de dólares, custo pago pela sociedade civil que padece pela falta de conhecimento sobre essas questões, sendo que a única forma de haver alguma mudança ainda é o esclarecimento a todos.
Referências:
VIRILO, PAUL; LOTRINGER, SYLVERE. Guerra Pura – A militarização do cotidiano. Editora Brasiliense. São Paulo, 1984. 158p.
SIPRI YEARBOOK 2011, Instituto internacional de pesquisas da paz de Estocolmo. Disponível em WWW.SIPRI.ORG
Foto: Bombardeio de Bagdá em Março de 2003. disponível em:  http://ricardocarelli.wordpress.com/2011/09/15/o-maniqueismo-estadunidense-quem-sao-o-bandidos-no-final-das-contas/. acesso em 11/07/12.