domingo, 27 de maio de 2012

Subordinação Tecnológica ao Militarismo



''Hoje os militares sabem tudo sobre os civis, mas os civis não sabem nada sobre os militares''. Paul Virilio


No ano de 2011, os gastos militares no mundo ultrapassaram um trilhão e quinhentos bilhões de dólares, segundo o Instituto de Pesquisas da Paz de Estocolmo – SIPRI. Os gastos envolvem o desenvolvimento e o comércio de equipamentos militares e a manutenção das forças armadas, treinamento de tropas e reposição de peças sobressalentes. O contínuo desenvolvimento tecnológico no setor militar exige enormes investimentos e, mesmos em tempos de paz, as nações investem vastos recursos nesse setor. Nenhum outro setor industrial no mundo consegue ter poder e hegemonia econômica e política comparada ao do complexo industrial militar. Esse poder foi suficiente para subordinar todo o desenvolvimento tecnológico mundial a esse segmento. Esse fenômeno industrial subordinou a produção tecnológica de ponta nos últimos 60 anos impulsionado pela tensão e pela guerra. As inovações tecnológicas mais avançadas da atualidade, bem como os cientistas mais bem pagos do mundo, estão a serviço do setor militar. Até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a produção e desenvolvimento militar dependiam das pesquisas cientificas e do crescimento industrial. No pós-guerra ocorreu uma inversão onde as pesquisas científicas, e o desenvolvimento industrial, passam a depender dos avanços alcançados pelos investimentos na produção militar (VESENTINI, 1987, p.55-87).
   Os aviões mais modernos e sofisticados são destinados para o uso militar, somente depois de estarem obsoletos para o uso bélico poderão ser produzidos para o uso civil. Os aviões mais rápidos são para o uso militar assim como as tecnologias mais avançadas de operação das aeronaves. Na produção de submarinos ocorre o monopólio quase por completo do uso militar. Na informática, na eletrônica e nos sistemas comunicação e de satélites ocorre o total predomínio do controle militar. O computador, a internet, a comunicação por satélites, os componentes para uso eletrônico, o GPS são conquistas proporcionadas pela pesquisa militar. As pesquisas para a guerra química e biológica contribuíram para grandes avanços na pesquisa genética e na bioquímica. A guerra do Vietnã contribuiu para a origem dos agrotóxicos modernos através das pesquisas com o agente laranja contribuindo para a produção e desenvolvimento de herbicidas e inseticidas que, posteriormente, passaram a ser utilizados na produção agrícola. A energia nuclear sempre esteve subordinada aos interesses estratégico-militares. Em suma, tudo o que há de mais moderno em tecnologia produzida no pós-guerra teve origem no complexo industrial militar. Essas tecnologias só passam ao uso civil quando estão obsoletas para o uso militar e, nessas condições, existem pesquisas constantes nos aperfeiçoamentos dos engenhos bélicos gerando mais avanços tecnológicos que poderão ser revertidos para o uso civil (VESENTINI, 1987, p.63.64).
  Sem duvida, os alicerces da produção industrial militar seria acompanhado da retórica dos enormes avanços tecnológicos conquistados pelo desenvolvimento de armamentos. Os defensores dos investimentos bélicos utilizam desses argumentos para analisar o salto gigantesco da tecnologia no pós-guerra. Com esses resultados positivos para a economia e o avanço em ciência e tecnologia seria pouco provável que esse sistema tivesse opositores, dado a imaturidade política que proporcionou uma deterioração das demandas democráticas e ampliou o poder de manipulação da população. A expressão mais visível e mensurável dessa intensa militarização é a corrida armamentista. Durante a Guerra Fria (1945-1991), os gastos militares dos países pobres quadruplicaram. Atualmente os gastos militares no mundo subdesenvolvido continuam a ser um ingrediente especial para os lucros das corporações ligadas ao setor militar. O resultado disso consiste na multiplicação incessante dos meios de destruição e no desperdício de recursos provocando o subdesenvolvimento da sociedade civil através da hipertrofia do militarismo provocado pela máquina de guerra estatal, o que será apresentado em outro texto. 

Referências:
VESENTINI, JOSÉ WILLIAM. Imperialismo e Geopolítica Global. Geopolítica e geoestratégia internacional. Ed. Papirus. Campinas, p. 55-87. 1987.

SIPRI YEARBOOK 2011, Instituto internacional de pesquisas da paz de Estocolmo. Disponível em WWW.SIPRI.ORG

Foto:  Gramatica do Mundo. Disponível em: