''Hoje os militares sabem tudo sobre os civis, mas os civis não sabem nada sobre os militares''. Paul Virilio
No
ano de 2011, os gastos militares no mundo ultrapassaram um trilhão e
quinhentos bilhões de dólares, segundo o Instituto de Pesquisas da Paz de
Estocolmo – SIPRI. Os gastos envolvem o desenvolvimento e o comércio de
equipamentos militares e a manutenção das forças armadas, treinamento de
tropas e reposição de peças sobressalentes. O contínuo desenvolvimento tecnológico
no setor militar exige enormes investimentos e, mesmos em tempos de paz, as nações
investem vastos recursos nesse setor. Nenhum outro setor industrial no mundo
consegue ter poder e hegemonia econômica e política comparada ao do complexo
industrial militar. Esse poder foi suficiente para subordinar todo o
desenvolvimento tecnológico mundial a esse segmento. Esse fenômeno industrial
subordinou a produção tecnológica de ponta nos últimos 60 anos impulsionado
pela tensão e pela guerra. As inovações tecnológicas mais avançadas da
atualidade, bem como os cientistas mais bem pagos do mundo, estão a serviço do
setor militar. Até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a produção e desenvolvimento
militar dependiam das pesquisas cientificas e do crescimento industrial. No
pós-guerra ocorreu uma inversão onde as pesquisas científicas, e o
desenvolvimento industrial, passam a depender dos avanços alcançados pelos
investimentos na produção militar (VESENTINI, 1987, p.55-87).
Os aviões mais modernos e sofisticados são destinados
para o uso militar, somente depois de estarem obsoletos para o uso bélico
poderão ser produzidos para o uso civil. Os aviões mais rápidos são para o uso
militar assim como as tecnologias mais avançadas de operação das aeronaves. Na
produção de submarinos ocorre o monopólio quase por completo do uso militar. Na
informática, na eletrônica e nos sistemas comunicação e de satélites ocorre o
total predomínio do controle militar. O computador, a internet, a comunicação
por satélites, os componentes para uso eletrônico, o GPS são conquistas
proporcionadas pela pesquisa militar. As pesquisas para a guerra química e
biológica contribuíram para grandes avanços na pesquisa genética e na
bioquímica. A guerra do Vietnã contribuiu para a origem dos agrotóxicos modernos através
das pesquisas com o agente laranja contribuindo para a produção e
desenvolvimento de herbicidas e inseticidas que, posteriormente, passaram a ser
utilizados na produção agrícola. A energia nuclear sempre esteve subordinada
aos interesses estratégico-militares. Em suma, tudo o que há de mais moderno em
tecnologia produzida no pós-guerra teve origem no complexo industrial militar.
Essas tecnologias só passam ao uso civil quando estão obsoletas para o uso
militar e, nessas condições, existem pesquisas constantes nos aperfeiçoamentos
dos engenhos bélicos gerando mais avanços tecnológicos que poderão ser
revertidos para o uso civil (VESENTINI, 1987, p.63.64).
Sem duvida, os alicerces da produção
industrial militar seria acompanhado da retórica dos enormes avanços
tecnológicos conquistados pelo desenvolvimento de armamentos. Os defensores dos
investimentos bélicos utilizam desses argumentos para analisar o salto
gigantesco da tecnologia no pós-guerra. Com esses resultados positivos para a
economia e o avanço em ciência e tecnologia seria pouco provável que esse
sistema tivesse opositores, dado a imaturidade política que proporcionou uma
deterioração das demandas democráticas e ampliou o poder de manipulação da
população. A expressão mais visível e mensurável dessa intensa militarização é
a corrida armamentista. Durante a Guerra Fria (1945-1991), os gastos militares dos países pobres
quadruplicaram. Atualmente os gastos militares no mundo subdesenvolvido
continuam a ser um ingrediente especial para os lucros das corporações ligadas
ao setor militar. O resultado disso consiste na multiplicação incessante dos
meios de destruição e no desperdício de recursos provocando o
subdesenvolvimento da sociedade civil através da hipertrofia do militarismo
provocado pela máquina de guerra estatal, o que será apresentado em outro
texto.
Referências:
VESENTINI, JOSÉ WILLIAM. Imperialismo e Geopolítica Global.
Geopolítica e geoestratégia internacional. Ed. Papirus. Campinas, p. 55-87.
1987.
SIPRI
YEARBOOK 2011, Instituto internacional de pesquisas da paz de Estocolmo.
Disponível em WWW.SIPRI.ORG
Foto: Gramatica do Mundo. Disponível em: