‘’Os artigos contra a paz
são escritos com penas feitas do mesmo aço utilizado nos canhões e nas
granadas’’. Aristides Briand
Novamente o mundo
estarrecido assiste a democracia perversa se mobilizar para a guerra. Se não ocorrecem às intervenções diplomáticas dos russos, os EUA já teriam direcionado a
sua máquina de guerra para massacrar a combalida e humilhada Síria. O
enfraquecido governo sírio seria uma presa fácil, pois prevalece à estratégia
de guerra apenas contra países que não podem reagir à agressão à altura. A
escalada midiática para incriminar o governo sírio de Bashar AL-Assad pelo uso
de armas químicas contra a população civil prossegue, e resultara em mais apoio
militar aos rebeldes que, tragicamente, ira incendiar cada vez mais o país. Diante dessa acusação podemos questionar: porque o governo de Assad utilizaria
armas químicas contra seu próprio povo em um momento que o governo esta
mergulhado em uma guerra total contra rebeldes e mercenários de dentro e de
fora de suas fronteiras? Porque arriscaria ser condenado pela ‘’comunidade’’ internacional
e perder os escassos apoios externos que possui? A grande mídia não levanta
essas questões e, muito pelo contrario, continua a insistir que foram as forças de
Assad que utilizaram as armas mesmo sabendo que os rebeldes, também, possuem
armas químicas. Prevalece o discurso hostil a países com governos ditatoriais,
como se o modelo democrático representativo ocidental fosse compatível com todas as
sociedades e culturas do mundo. É certo que o motivo é um pretexto para afirmar
o jogo geopolítico dos EUA e de Israel na região. O objetivo dos EUA parece ser
derrubar o governo de Assad e não acabar com a guerra com a utilização de um
acordo de paz. O discurso se assemelha ao utilizado na invasão do Iraque com os
mesmos propósitos, ou seja, derrubar uma ditadura que se considera ser sanguinária
utilizando os instrumentos de destruição necessários, de forma direta ou indireta, não
importando quantas pessoas possam ser atingidas. Segundo estudos, 90% dos
mortos na invasão e ocupação do Iraque, a partir de 2003, foram civis (PILGER,
2009).
As explicações possíveis para o que esta ocorrendo
na Síria envolve, primeiramente, a posição nacionalista do governo de Assad, que
entra em choque com os interesses corporativistas internacionais,
principalmente, do setor energético, pois a Síria possui importantes reservas
de petróleo e gás. Em segundo, como já nos referimos em outros textos, à Síria é o
principal aliado do Irã na região, o que contraria os interesses dos regimes da Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Barein e,
principalmente, dos EUA e Israel. As armas dos EUA, e de
seus aliados europeus, estão chegando aos rebeldes pela Arábia Saudita e Barein
e o derramamento de sangue prossegue não importando os impactos políticos e sociais desse conflito. A postura externa dos EUA é condizente ao seu casamento com a produção bélica e a construção
do complexo industrial militar durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como
já foi apresentado em outros textos. Esse complexo não foi desmobilizado após
aquele conflito, ele permanece como um imperativo de crescimento econômico e
tecnológico importante para os interesses das mega corporações dos EUA direcionando a sua política interna e externa. Os
arbítrios da maior potência militar do mundo fizeram do movimento popular árabe,
conhecido como ‘’Primavera Árabe’’, um pretexto para a imposição de um novo jogo
geopolítico na região. A Tunísia, depois da queda do ditador, aliado dos
EUA, outro governo colaborador assumiu o seu lugar com os mesmos propósitos, ou seja, contribuir com os interesses
ocidentais. A Líbia esta mergulhada na barbárie sem fim depois dos violentos
bombardeios sobre o país realizados pelos EUA, França e Grã-Bretanha, que
derrubaram o governo de Muammar Gadaffi, causando a morte de 30 mil pessoas. A
situação do Egito é sombria, e o futuro político do país é incerto com risco de
conflagração interna ou de permanecer na ditadura, enquanto a Síria afunda na guerra civil.
Enfim, o movimento popular árabe, que demonstrava insatisfação contra as
injustiças sociais, está domado pelos interesses externos ocidentais e, praticamente, se
encontra sepultado.
Quanto ao Iraque, o país continua mergulhado
na violência interna com a possibilidade de uma guerra civil em larga escala rivalizando
sunitas e xiitas. No Afeganistão, a guerra prossegue e é certo que os EUA
perderam a guerra no país, assim como perderam a guerra do Iraque. O que se
observa é a atmosfera de caos e violência se disseminando em grande parte do
Oriente Médio, do mediterrâneo ocidental ao Paquistão. Somando a isso esta a
insurgência do extremismo de grupos radicais apoiados de um lado e de outro. Grupos
aliados á Al Qaeda estão sendo apoiados pelos EUA na Síria, e mercenários estão
chegando em um numero crescente ao país. Dessa forma, a Síria se assemelha
a Nicarágua dos anos de 1980 com a campanha assassina dos EUA para derrubar o
governo sandinista, apoiando os rebeldes e ignorando a catástrofe humanitária que
se segue. Armas continuarão a chegar como nunca na Síria e grupos de
combatentes serão treinados para a guerra até que o governo do país caia. Se o
governo sírio não cair, e não ocorrer um acordo de paz (O que parece ser pouco
provável pela ingerência externa nesse conflito), os EUA poderá utilizar um novo
pretexto para atacar mais o país, de forma direta ou indireta. Se os radicais do partido republicano estivessem
no poder nos EUA, à Síria, provavelmente, já teria sido atacada diretamente.
No entanto, pesquisas indicam que a maioria
dos estadunidenses são contra essa guerra, o que pode ser uma esperança para o
povo sírio, mas é certo que a política belicosa dos EUA dificilmente mudará.
Mas e a guerra deverá continuar sem se fazer nada para dete-la? A exemplo do
conflito mais mortífero após a Segunda Guerra Mundial na República Democrática
do Congo - RDC, cinco milhões de pessoas foram mortas e nada foi feito para
acabar com o conflito que ainda permanece. Como se observa, as justificativas
de ‘’guerras humanitárias’’, como a aplicada contra a Líbia, apenas tende ao convencimento do público para a obtenção do apoio as ações que se seguem. Em contrapartida, se estabelece no mundo uma política geoestratégica genocida e etnocida, com uma conotação fortemente imperialista. É certo que essa
política continuará a menos que os cidadãos dos EUA decidem parar de pagar a conta, ou se o militarismo da democracia
perversa for isolado no cenário internacional. Esses assuntos ainda estudaremos
em outros textos. Quanto à Síria? Seguira sendo destruída até pouco restar para
ser destruído. Se houver ataques dos EUA, a situação será ainda pior, pois se o governo de Assad cair à população
Xiita e Alauita será perseguida. Não seria possível uma solução militar para esse
conflito, ao menos que populações inteiras sejam varridas do mapa pela guerra. Em
suma, os últimos a serem beneficiados pela política dos EUA, para região, serão os
sírios. Quanto a esse papel de ‘’polícia do mundo’’ que o EUA ainda insistem em
impor sobre a humanidade, estudaremos em outro texto.
Referências:
PILGER, JOHN. A Guerra Que
Você Não Vê. Documentário jornalístico. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=pskjzl2czKg.
Acesso em: 15/09/2013.
Foto: Mundo Naútico. Iraquianos queimados durante a combates na Guerra do Golfo. Disponível em: http://naval.blogs.sapo.pt/39790.html. Acesso em 16/09/2013.
Foto: Mundo Naútico. Iraquianos queimados durante a combates na Guerra do Golfo. Disponível em: http://naval.blogs.sapo.pt/39790.html. Acesso em 16/09/2013.