domingo, 15 de janeiro de 2012

Guerra aos mais fracos e vulneráveis


''A guerra sempre encontra um caminho''. Bertolt Brecht




    A imagem acima mostra a realidade cotidiana que marcou o envolvimento militar dos EUA no Iraque desde sua invasão  a partir de março de 2003 até dezembro de 2011 respectivamente. A relação conturbada entre as forças armadas estadunidenses e a população local acirrou o conflito desencadeando uma violência sem limites. O resultado dessa guerra é desastroso, e ainda é incerto o futuro político do Iraque com a saída das tropas dos EUA. O desequilíbrio de forças foi uma característica desse conflito e as razões para ele ter sido deflagrado são várias, envolvem interesses estratégicos e econômicos estatais, e das grandes corporações, e o objetivo tático dos EUA de derrubar um ditador inescrupuloso e não confiável. Mas há ainda outro fator. O período da chamada Guerra Fria (1945-1991) foi marcado pelo confronto ideológico entre os EUA, e seu bloco capitalista de um lado, e a URSS, com seu bloco socialista de outro, sistematizando uma nova forma de guerra. A influência desse período permaneceu nas características dos conflitos atuais. O intelectual estadunidense Noam Chomsky em seu texto Armas Estratégicas, Guerra Fria e Terceiro Mundo (1985), definiu a Guerra Fria como um sistema altamente funcional para as duas superpotências envolvidas. Dentro da sistemática de cada bloco ocorria o pretexto ideológico de se envolver, onde quer que se achasse necessário, para se defender da ameaça do bloco adversário. As superpotências não podiam se enfrentar em uma guerra direta, pois isso resultaria na destruição total de ambas e a extinção da espécie humana. No entanto, as superpotências passaram a travar outro tipo de guerra na periferia do planeta. O poderio bélico, de ambos os lados, permitiu o controle do dissenso interno e serviu de arcabouço para o uso da força, para proteger seus domínios, contra qualquer tentativa de independência no interior dos blocos.
    Nesse período, a guerra passou a ser combatida com novos tipos de engenhos táticos como helicópteros, napalm, forças de rápido deslocamento e, se possível, armas nucleares táticas. A guerra passa a ser direcionada as áreas mais pobres do planeta contra povos que não podem reagir a agressão à altura. Sob a rubrica do sistema de Guerra Fria essas guerras foram conduzidas em muito maior proporção pelos EUA. As guerras atuais acompanham esse mesmo sistema, ou seja, a guerra direcionada aos mais fracos e vulneráveis. A chamada Guerra do Golfo (1991) foi considerada uma das guerras mais unilaterais da história contemporânea. Opôs de um lado o Iraque, com um estoque considerável de armas já ultrapassadas e superadas pelas potências ocidentais, e de outro lado os EUA e seus aliados ocidentais, armados com os engenhos bélicos mais tecnologicamente avançados do período. O resultado daquele conflito foi à formidável eficiência apresentada pelos novos armamentos. Entre os maiores destaques foram os mísseis de precisão cirúrgicas e os aviões de combate com tecnologia Stealth, invisíveis ao radar. O Iraque sofreu uma fragorosa derrota. No entanto, antes mesmo do desfecho final do conflito, as medidas para enfraquecer a capacidade bélica e econômica do país já estavam bem avançadas. Bloqueios comerciais e bélicos ao Iraque foram empregados enfraquecendo a sua capacidade de resistir por um longo período. A alienação dos sistemas de armas ainda vamos analisar em outro texto, mas era certa a derrota do Iraque, pois a superioridade bélica dos seus inimigos era estrondosa pela disparidade e dependência tecnológica.
     Como já sabemos, a derrubada do ditador Saddam Hussein não ocorreu naquele período, mas, nos anos seguintes, o que se seguiu foi um completo embargo que fragilizou a economia do país e enfraqueceu ainda mais a sua capacidade de defesa. Antes da invasão do Iraque em 20 de março de 2003, o país sofria ataques aéreos diários dos EUA e da Grã-Bretanha, principalmente dentro da zona de exclusão aérea imposta ao país para, supostamente, proteger os curdos ao norte e os xiitas ao sul contra ataques aéreos do governo iraquiano. A capacidade de defesa do Iraque estava tão frágil que o país pouco conseguiu fazer contra os invasores e foi rapidamente derrotado. Em 1º de maio de 2003 o então presidente Jorge.W.Bush anunciou o fim das operações militares no país e a dissolução do partido Baath, o partido do deposto ditador Sadam Hussein. O que se seguiu adiante foi um verdadeiro lodaçal, mas demonstra que o sistema da Guerra Fria permaneceu, ou seja, a guerra contra os fracos e vulneráveis. Nessa lógica, não surpreende a preocupação dos EUA com o possível desenvolvimento militar do Irã. O sistema de guerra direcionada aos fracos seria abalado com o fortalecimento militar iraniano, pois o país parece ter desenvolvido sistemas de armas independentes que, embora sejam insuficientes para deter o poderio bélico dos EUA, podem dificultar as coisas em uma área tão estratégica para os interesses do ocidente. No entanto, como analisaremos em outro texto, ocorrem benefícios com as tensões com o Irã, principalmente no que se refere à venda de armas e os investimentos bélicos. Mas se o fortalecimento do Irã continuar, e se elevar a um nível muito perigoso, a estratégia poderá mudar, pois, como já mencionamos, a guerra é direcionada contra povos que não podem reagir a altura sendo possível o surgimento de uma nova Guerra Fria contra o país. Os ataques já começaram com os bloqueios comerciais e o sistema financeiro do país, mas, devido ao conservadorismo da política ocidental, uma catastrófica ação militar ainda não esta descartada. Como afirma Noam Chomsky, a Guerra Fria consolidou um sistema de massacre, destruição e opressão que se estendeu e se adaptou, militarmente, para a periferia do planeta e suas características permanecem no período atual mesmo após 20 anos do seu final.

Palavras Chaves: Guerra Fria, Vulnerável, Tecnologia, Invasão, Reação.

 Referências:
CHOMSKY, NOAM. Armas Estratégicas, Guerra Fria e Terceiro Mundo. Coletânia de textos Exterminismo e Guerra Fria. Editora Brasiliense. São Paulo. 1985. p.188-205.
Foto: Economia de Guerra. Camiseta de Pet, disponível em: http://www.camisetadepet.com.br/blog/2011/08/fenomeno-el-nino-duplica-risco-de-guerra-civil-diz-estudo/economia-de-guerra-2/. Acesso em 12/01/2012.


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