quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Endocolonização



‘’A evolução da máquina de guerra é a involução da humanidade’’. Laymert Garcia dos Santos

   Até o momento no avanço de nossos estudos, sobre a questão bélica, apresentamos algumas abordagens dos principais estudiosos das diversas áreas das ciências humanas. As análises do Filósofo Paul Virílio serão apresentadas em mais textos posteriores, pois esse estudioso aborda temas de grande profundidade quanto ao militarismo e a supremacia da mentalidade de guerra na sociedade atual. Falar apenas de guerra e de armas é muito fácil na atualidade. Para todos os lados se podem encontrar textos e artigos em jornais, revistas, livros, documentários, entre outros, muitos exaltando o formidável poderio das armas convencionais mais modernas. Esses ‘’brinquedos de matar’’ são, para muitos, tratados como se fossem verdadeiros troféus conquistados pelo conhecimento humano. A realidade atual demonstra a total disseminação do recurso bélico. 
   A maioria dos principais defensores dos aparatos militares nunca estiveram convivendo em um cotidiano de guerra e de conflagração total e, evidentemente, nunca conheceram de perto o flagelo humano dos campos de refugiados espalhados pelo mundo. Como ainda estudaremos mais profundamente, e já relatamos nesse blog, apenas os mais pobres sofrem as consequências dos conflitos bélicos e são instigados a combater e a morrer em guerras. Sendo a população civil os que sustentam os países, essa acaba por ser penalizada pela manutenção dos investimentos no setor bélico e dos contingentes militares  sempre em prontidão, recursos esses que poderiam ser utilizados para melhorar as condições de vida das populações e diminuir os graves problemas sociais que assolam a humanidade. Segundo Paul Virilio, se evidencia na humanidade atual uma nova forma de colonialismo vigente. Diferente do colonialismo clássico do passado, onde potências dominavam territórios estabelecendo um controle através do uso da força e pela aliança ou a implantação de elites ou grupos dirigentes locais, essa nova forma de colonialismo atual é muito mais forte e eficiente, pois se utiliza dos aparatos ideológicos e de poder nunca antes aplicados inclusive conquistando o apoio de grande parte da população civil (VIRILIO, LOTRINGER, 1984, p. 49-68). 
  A sociedade civil permanece submissa e atrasada. Esse novo colonialismo é compartilhado entre o estado moderno corporativista e as grandes corporações. Virílio define isso como a ‘’Endocolonização’’, ou seja, a colonização por dentro da própria fronteira dos países, da própria população civil. Não se domina mais territórios para colonizá-los e submeter a população a servidão. Agora se coloniza a própria sociedade civil dos países. A colonização, como demonstra na história, assegurou a imposição da divisão internacional do trabalho pelas potências capitalistas centrais. Agora essa mesma divisão internacional do trabalho passa ao controle das corporações. Enquanto um se desenvolve outro se subdesenvolve essa é a lógica, historicamente, atribuída ao colonialismo desde o antigo como ao novo. A população esta submetida a esse colonialismo e permanece subdesenvolvida perante a máquina de guerra incluindo, segundo evidencias de outros estudos (Que serão ainda apresentados nesse blog), a maioria dos próprios militares. Para o geógrafo Milton Santos, aqueles que não podem utilizar dos meios técnicos mais sofisticados e poderosos passam a utilizar conjuntos de instrumentos menos poderosos permanecendo em posição de menor importância no período atual (SANTOS, 2009, p.25). A sociedade civil não tem acesso aos meios mais sofisticados os quais permanecem nas mãos do complexo industrial militar.
    A máquina de guerra, altamente tecnológica, estabeleceu uma nova dimensão de guerra permanente e interrupta submetendo, como já estudamos, o próprio poder político incluindo a maior parte dos militares ativos. Essa questão será estudada em outro texto. Inclusive, na proporção que alcançou nossos estudos, não podemos deixar de apresentar os aparatos midiáticos utilizados como uma grande arma da militarização da sociedade civil. Sobre essa questão relacionada com a estética da guerra abordaremos em outros textos futuros.
Referências:
VIRILO, PAUL; LOTRINGER, SYLVERE. Guerra Pura – A militarização do cotidiano. Editora Brasiliense. São Paulo, 1984. 158p.
SANTOS, MILTON. Por uma Outra Globalização. Editora Record. Rio de Janeiro, 2009, 174p.


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