Os
EUA, atualmente, é um gigantesco complexo industrial militar. De acordo com o
Instituto de Pesquisas da Paz de Estocomo – SIPRI, os EUA produz 60% das armas
consumidas no mundo e responsável por 50% dos gastos militares no planeta
anualmente. Os outros países que encabeçam a lista são China e Rússia, mas
estão muito atrás. A Rússia possui um orçamento na área de defesa
10 vezes inferior ao dos EUA. No entanto, devo esclarecer que não temos a
intenção de estabelecer um discurso ‘’panfletário“, muito pelo contrário,
é necessário que se entenda que grande parte da oposição mais séria á política
militarista dos EUA vem dos próprios estadunidenses. Se a homogeneização crassa,
resultante da militarização, foi utilizada com o êxito no país para o controle
do dissenso interno o que, para ser mais preciso, resulta no controle da classe
trabalhadora, essa mesma homogeneização não foi, e não é, suficiente para
impedir oposições ou manifestações contrárias a essa política. A bela imagem
acima apresenta a estudante estadunidense Jan Rose Kasmir em outubro de 1967, fotografada pelo fotográfo francês Marc Riboud, em manifestação contra a guerra
do Vietnã. As manifestações populares foram fundamentais para o fim daquele
conflito. Atualmente, existem movimentos pacifistas atuando nos EUA e esses
movimentos reúnem artistas, intelectuais e parte considerável da população mais
esclarecida. No entanto, nos EUA predomina um histórico de educação conservadora. Essas deficiências estruturais estão
associadas á uma poderosa engrenagem de propaganda militar estabelecendo uma relação cultural
com a de honra e dignidade com a guerra profundamente enraizada na sociedade
estadunidense. Esse fenômeno vamos estudar em outro texto. A realidade atual
dos EUA foi construída historicamente, e as transformações que possibilitou a
supremacia dos militares na política dos EUA será o nosso objetivo de estudo.
Nesse texto vamos historizar sobre o crescimento do militarismo nos EUA de
acordo com um polêmico trabalho histórico investigativo, e de denúncia, produzido,
nos anos de 1960, pelo jornalista e historiador estadunidense Fred. J. Cook.
Esse estudo resultou na publicação do livro ‘’O Estado de Guerra’’ nos EUA, e
publicado no Brasil com o título de ‘’O Estado Militarista’’(1964) no período
de auge da Guerra Fria. Ao melhor entendimento vamos dividir o texto em
partes. Nessa primeira parte vamos abordar o período da história dos EUA entre
1787 a 1942 entre a elaboração da constituição no país e a entrada dos EUA na
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Objetivamos o entendimento das relações estabelecidas entre a
sociedade civil e os militares e como isso contribuiu para o país se
transformar em um gigantesco e perigoso ‘’estado fortaleza’’. No inicio dos EUA como nação soberana, apesar do caráter expansionista que resultaria na
conquista de territórios dos indígenas, mexicanos, espanhóis e franceses, de
forma conflituosa ou por compra forçada ou não, existia uma
desconfiança dos políticos quanto aos militares, segundo as análises de Cook.
Em 1787, na elaboração da primeira
constituição dos EUA, Patrick Henry, um dos idealizadores, se opôs a idéia da
criação de um exército permanente o que, segundo o político, representaria uma
ameaça à liberdade e o risco de uma tirania militar pela sua influência. Henry
defendia assim a formação de um exército apenas em ocasião de guerra. George
Manson, outro idealizador da constituição, defendia que o exército deveria
estar totalmente subordinado á um poder civil alegando que os militares eram
uma força que se não fosse controlada acabaria por minar a democracia. Em 1792,
James Madison destacaria a conseqüência de um alto ônus para o povo se houvesse
um exército permanente. Até 1809 se conceberia a idéia de manter um exército
dentro dos limites estabelecidos. Alexandre Hamilton, um dos políticos mais
conservadores, defenderia a posição de um controle total do legislativo sobre a
força militar não sendo autorizado ao executivo a formação de um exército e
também estabelecendo um limite de verbas para os militares que não se
prolongasse por mais de dois anos. Segundo as concepções defendidas por
Hamilton, se o militarismo se elevasse ao estado civil, a população passaria a
considerar os militares não como seus protetores, mas sim como seus superiores
e estariam sujeitos as usurpações do poder militar, considerando isso um
desastre para a democracia (COOK, 1964, p.37-42).
A postura política dos EUA de 1812 até o
final da primeira guerra mundial quanto à questão militar estava submetida sob
essas convicções e as suas forças militares seriam compostas por milícias com
poucos oficiais. No caso de guerra ocorria o recrutamento de voluntários e,
mesmo durante a guerra civil e a guerra hispano-americana, as forças oficiais não
ultrapassavam os vinte e cinco mil homens, sendo reduzidos drasticamente os
gastos militares após o conflito. Dessa forma até 1900 apenas três dos trinta e
cinco oficiais do exército mais importantes eram ligados aos negócios. A
marinha era um clube social onde apenas um almirante se dedicava aos negócios.
Após a primeira guerra mundial, a economia e os negócios não estavam
acorrentados aos interesses dos contratos militares, mas várias vezes o
exército tentou apoderar-se do poder inclusive tentando impor um serviço
militar obrigatório, não aceito pelo congresso. O exército dos EUA em 1919 seria
reduzido para meros trezentos e cinqüenta e quatro mil e trezentos e sessenta e
seis homens. Em 1920, o exército conseguiria o apoio de membros do congresso e
no Ato de Defesa Nacional, conseguiram então superar parte da autoridade do
secretario de guerra Woodrow Wilson, sendo autorizados a apresentar seus casos
diretamente ao congresso sem o controle de um civil. Outra ação anterior no ano
de 1916, conseguiram estabelecer o serviço militar nas escolas e faculdades de
ensino superior nos dois primeiros anos (COOK, 1964, p.43-45).
Nos vinte próximos anos seguiria uma
verdadeira insipidez e frustração para os militares, não se envolvendo
politicamente em nenhuma ocasião. No entanto em uma sociedade onde prevalecia o
deus da iniciativa privada, a crise de 1929 seria um verdadeiro desastre e
deixaria claro que seria ‘’necessária’’ uma maior intervenção do estado na
economia e, nesse contexto, ascenderia ao poder o democrata Franklin Roosevelt.
Roosevelt concentraria seus esforços nas questões sociais. Implementou o seguro
social para os trabalhadores e a jornada de quarenta horas, o que enfureceria
as classes industriais e financeiras pela redução de seus lucros. Em 1938, com
as ameaças do Nazi - Facismo e a escalada militar do Japão, a política do
governo Roosevelt a se direcionou para as questões militares externas. Os
defensores da política do New Deal acreditavam
nas ameaças de uma economia militar, mas com a eclosão da guerra o presidente
Roosevelt seria obrigado a se aproximar dos grandes industriais e donos das
finanças a quem ele desafiara no objetivo de se voltar a uma produção de
guerra. A orientação do governo passaria a ser militar e as grandes corporações
seriam beneficiadas pela produção de tal forma que em 1941 às cinqüenta e seis
maiores indústrias detinham setenta e cinco por cento de todos os dólares dos
contratos de guerra (COOK, 1964, p.45-52).
No
próximo texto, vamos analisar os eventos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial até o seu término, e como isso acabou por concretizar uma aliança entre
os industriais e os militares para dominar a economia e a política dos EUA,
resultando no estabelecimento do complexo industrial militar.
Referências:
COOK,
FRED.J. O Estado Militarista. O crescimento
do militarismo. Editora Civilização Brasileira S.A. Rio de Janeiro. 1964,
p.37-65.
SIPRI
YEARBOOK 2011, Instituto internacional de pesquisas da paz de Estocolmo.
Disponível em WWW.SIPRI.ORG
Foto: Fotos e Fatos. Maximagem, disponível em: http://maximagem2010.wordpress.com/2009/10/11/protesto-contra-a-guerra-do-vietna/. Acesso em 11/02/2012.
Foto: Fotos e Fatos. Maximagem, disponível em: http://maximagem2010.wordpress.com/2009/10/11/protesto-contra-a-guerra-do-vietna/. Acesso em 11/02/2012.
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