A
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) permitiu uma aproximação entre os militares e os grandes
industriais nos EUA. Naquele contexto, a produção de guerra se transformaria em um trunfo na
superação da crise econômica que já se arrastava desde o período de início da Grande Depressão no final dos anos 1920. A devastadora crise econômica no mundo capitalista propiciou a ascensão do Nazi-Fascismo na Alemanha e Itália como proposta de superação do catastrófico declínio econômico. Nos EUA, a eclosão da guerra possibilitou a
superação da crise econômica com a aceleração da produção industrial, praticamente
anulando o desemprego no país resultando no estabelecimento do Complexo Industrial Militar.
O cartaz acima apresenta uma propaganda dos industriais para intensificar
a produção de guerra. Os nazistas e os japoneses foram associados a monstros
devoradores. Após o
conflito a propaganda se voltaria contra os comunistas com o propósito de continuar a produção de
guerra. Hoje a ‘’Guerra ao Terror’’ promove a intensificação dos investimentos
na área militar e na produção de guerra contra os novos inimigos comuns - os terroristas. Retornaremos a seguir com as análises de COOK.
O envolvimento direto
dos EUA na guerra a partir de 1942 seria uma ‘’benção’’para as oligarquias
financeiras conservadoras e para os militares. Thomas Wallner, líder do
conselho industrial sulista defenderia o esforço total pela guerra sem a
preocupação com as questões internas. Donald Nelson foi designado chefe do
departamento de produção de guerra enquanto que o general Brehon B. Somervell
seria chefe dos serviços de fornecimento e encarregado da adjudicação dos
contratos para as forças armadas, segurava os cordões da bolsa, fazia compras,
concedia ou anulava contratos, dessa forma o verdadeiro controle e poder estava
nas mãos do general e dos militares. Os gastos militares em 1943 superaram os
gastos em um período de 1789 a 1917, sendo que alguns anos antes os militares
não tinham munições nem para treino de tiros. Os militares passariam então a
exigir tomadas de decisões. Em maio de 1944 a marinha cancelou o programa de
aviões de caça nas duas fabricas da Bewister Corporation e nove mil
funcionários foram demitidos, mas os funcionários ocuparam as fabricas exigindo
a manutenção de seus empregos. Esse episódio provocaria uma tentativa de
mudança no ritmo da produção industrial e Donald Nelson tentaria reconverter as
pequenas empresas para a produção civil, mas seria impedido pela posição do
general Somervell alegando que a redução na produção de obuses levaria ao maior
combate corpo a corpo e a morte de mais soldados (COOK, 1964, p.53-60).
O
relatório de julho de 1944 que confirmaria que os EUA possuíam munições e
equipamentos para pelo menos mais cinco anos de combate seria apropriado e
suprimido pelos militares. A produção militar continuaria em nome do
patriotismo e a idéia de reconversão das pequenas indústrias para a produção
civil proposta por Nelson seria estrangulada. A reconversão seria retardada até
que as grandes corporações pudessem entrar no mercado civil e proteger a sua
supremacia ante aos pequenos. As oligarquias econômicas seriam protegidas as
custa das empresas menores, a custa da mão de obra e a custa do consumidor,
processo totalmente oposto a democracia. Os grandes magnatas das corporações e
os militares estreitaram suas relações e essa união passaria a se tornar sem
precedentes. Sem duvida os militares passaram a ter a sincera convicção de que
poderiam controlar tudo melhor e mais eficiente do que os civis. A questão
econômica é que o desemprego nos EUA se tornou nulo durante a guerra e que
apenas em uma situação de economia de guerra isso se concretizaria. Sendo assim,
com as reduções dos gastos militares provocaria uma queda na economia, sendo
essa agora dependente de uma prosperidade que só se alcançaria pelo aumento dos
gastos militares (COOK, 1964, p.60-64).
No discurso de janeiro de 1944, Charles E.
Wilson sugeriu uma aliança entre os militares e os homens de negócios numa
‘’economia permanente de guerra’’. Os industriais, sendo grandes negociantes,
agiriam de forma a resguardar os seus interesses com o propósito de
comprometimento com o bem estar nacional e se colocando como subservientes dos
militares, tendo o congresso apenas que ‘’votar os fundos necessários’’. A
legislatura a qual Hamilton confiara como travão aos militares e como garantia
da conservação da democracia, se transformaria em um corpo inteiramente fútil,
reduzido a mera função de ‘’votar os fundos necessários’’. Esses processos
representariam a coroação final do estado militarista e a criação de um
complexo militar industrial permanente, mas o ‘’casal de noivos’’, composto
pelas indústrias de materiais bélicos e os militares, se manteriam graças a uma
arma muito eficiente e ainda mais poderosa - a propaganda (COOK, 1964, p.65).
Com a morte do presidente Franklin
Roosevelt em 12 de abril de 1945, Harry S. Truman assumiria a presidência.
Considerado inexperiente e um péssimo diplomata, seria influenciado diretamente
pelo alto escalão militar ligados aos industriais conservadores, mas o mais
grave era Truman ser um homem ousado e arrogante. Os militares levantariam a
questão polaca no qual a URSS estaria construindo governos sobre sua influencia,
sem levar em conta a importância que a polônia tinha para a segurança da Rússia,
já que foram através do território polaco que a maioria das forças alemãs
marcharam sobre á URSS alguns anos antes. O projeto dos militares sempre foi
encontrar soluções militares para todos os problemas e em 23 de abril de 1945,
o secretário de estado russo Molotov (pelo motivo envolvendo a questão polaca) seria
recebido com frieza por Truman, iniciando as tensões que acabaria por eclodir,
de forma gradativa, a guerra fria. A diplomacia seria posta de lado mais uma
vez na utilização da bomba atômica sobre o Japão, sem avisar os aliados russos.
Truman obedeceu à política do estado maior de não compartilhar os segredos
atômicos com os russos gerando desconfiança e rivalidades (COOK, 1964, p.66-83).
O relatório Franck de junho de 1945, em que
cientistas ligados a construção da bomba sugeriram a demonstração a todos os
governos do mundo dos poderes destrutivos da nova arma em uma ilha para que
houvesse uma conscientização sobre os perigos de sua utilização, seria também
suprimido pelos militares que não desejavam compartilhar os segredos da bomba
com os russos, como se os EUA fossem os guardiões de um avanço tecnológico que
dificilmente seria alcançado em curto prazo, o que se demonstrou totalmente o
contrário. A bomba seria utilizada sem aviso contra os japoneses. O Japão,
apesar de ter recebido um ultimato para a rendição em 26 de julho de 1945, não
sabia da existência da bomba, e conheceria os terríveis efeitos devastadores de
um ataque nuclear dias depois (COOK, 1964, p.112-115).
No próximo texto vamos abordar os eventos
que acabaram por iniciar o sistema de Guerra Fria lançando o mundo a uma era
de medo e incertezas.
Referências:
COOK,
FRED.J. O Estado Militarista. Editora Civilização Brasileira S.A. Rio de Janeiro.
1964, p.37-148.
Foto: Posters da Segunda Guerra Mundial. Taringa.net, disponível em: http://br.taringa.net/posts/imagens/15539/Posters-da-Segunda-Guerra-Mundial-%28EUA%29.html. Acesso em 15/02/2012.
Foto: Posters da Segunda Guerra Mundial. Taringa.net, disponível em: http://br.taringa.net/posts/imagens/15539/Posters-da-Segunda-Guerra-Mundial-%28EUA%29.html. Acesso em 15/02/2012.
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